domingo, 27 de junho de 2010

Como posso?

Como posso anunciar uma palavra que eu não vivo?
Como posso cantar aquilo que não condiz com a realidade?

Aprendi que devo amar. Aprendi que devo perdoar. Aprendi também que todas as falhas de todos os homens é perdoada pelo seu arrependimento.

Li sobre dezenas de homens sedentos por sangue jogarem suas pedras fora porque simplesmente foram desafiados a olharem pra dentro de si e, se ao menos 1 deles estivesse em condições de condenar aquela mulher, que iniciasse o massacre.

Os tempos mudaram, e cada vez mais pessoas capacitadas a atirar a primeira pedra estão presentes, prontos para ameaçar aqueles que derem o azar de se encontrar com elas. O pior é não encontrar pessoas dispostas a se interpor entre as partes em prol daquilo que se acredita.

Como posso anunciar uma noticia de reconciliação com o Criador e Regente do Universo para todos os homens, quando diante dos homens isso não é o suficiente para dar harmonia entre os irmãos? O fato de uma pessoa estar em harmonia com o Criador e Regente do Universo não deveria ser mandatorio pra mim? Somos tão bons ou tão importantes assim?

Como posso cantar a canção do perdão, vivendo uma vida dominada pelo orgulho?

E como anunciar para os que não tem lar, para as prostitutas, travestis, assassinos, traficantes e amigos meus que eles são aceitos por Deus e que, como filhos dEle, nós também os amamos quando não suportamos nem respirar o mesmo ar que eles por tempo o suficiente pra que ao menos isso parecesse verdade?

Qual a razão de levantar as minhas mãos a um Deus que não vejo mas sinto, sendo que não consigo sentir o meu irmão que vejo do meu lado?

Decididamente quero romper com isso. Não deixando meu lugar vago, pois tal como Philip Yansey escreveu: "me afastei por encontrar pouca graça ali, voltei pois não achei graça em nenhum outro lugar."

Não quero me perder entre os apertos de mãos, sorrisos e beijos no rosto sem sinceridade. Não quero me perder entre luzes, arranjos, acordes e discursos vagos.

Quero aproveitar esse momento para me perder novamente em minhas incertezas, na esperança de me encontrar outra vez no final. E que então eu possa ser verdadeiro comigo mesmo, aprendendo o que é verdadeiramente amar.

Comigo, levarei apenas uma certeza: Tudo aquilo que ficou pra trás, não quero mais de volta!  

sábado, 5 de junho de 2010

Luto

Uma nova vida veio ao mundo. Um novo bebê chorando nos braços da enfermeira. Bebê e seus pais chorando.

Em todos se encontram olhos lacrimejados de alegria. Lágrimas semelhantes às que escaparam de meus olhos. Porem, não era a alegria que as faziam romper.

O toque do telefone era um anúncio de noticias que não soariam tão boas. Os médicos haviam decretado a vida em apenas mais algumas horas.

Se eu pudesse, daria muito mais.
Foram anos atravessados em meio ao deserto. Abraços que traziam conforto em meio ao desespero, sorrisos em meio ao sofrimento. Todas as esperanças colocadas dentro do jarro que, de tantas vezes despedaçado, se tornou um mosaico. Mas a esperança se foi, e não deixou vestígios para trás.

Uma vida nova é fácil de aceitar. Mas a chegada de uma alma não aplaca a dor da partida de uma tão querida.

De fato, muitos passam por esse mundo. Mas nem todos de fato vivem. Multidões que vivem por longas décadas, deixam por trás de si um passado sem sentido, vidas desperdiçadas e empoeiradas em meio a oportunidades não aproveitadas.

Algumas, entretanto, tem o poder de transformar outras vidas, ainda que não tivessem feito a escolha e nem tivessem clara a intenção de assim o fazer. Apenas o milagre da sua existência é o suficiente pra mudar até mesmo a nossa visão e o nosso entendimento sobre o Criador do Universo.

Na ausência das palavras que seriam capazes de definir e externar os sentimentos gerados em meio aos acontecimentos, o luto traz a dor, lembrança e a certeza de que ainda somos crianças no saber e no interpretar.

A fé não esta abalada.

Os corações feridos nunca mais voltarão a ser como antes, mas serão curados e o triste mosaico dará lugar a uma bela paisagem. Por hora, a inspiração é sufocada, a poesia retirada, até que os dias de luto passem.

Porem, se eu pudesse, daria muito mais...