sábado, 31 de dezembro de 2011

Inspiração para um novo ano, uma nova vida!

Desejo para mim e pra você, uma vida que valha a pena ser vivida!


O tempo e as jabuticabas (Rubem Alves)

'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.
 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Carta de Gregório para Little Sunshine

Little Sunshine,

Sempre procurei palavras para poder dizer aquilo que eu sinto e penso ao seu respeito. De todas as cartas que eu já escrevi essa é, definitivamente, a mais difícil de todas elas.

Há uma certa inabilidade que me toma conta em me descrever, um crescente medo de tornar minhas palavras parecidas com algum clichê e, nisso tudo, não conseguir expressar para você o que eu gostaria. Mas assim são as cartas. E me dou conta de que essa é a primeira que eu escrevo para você.

As imagens e as lembranças se tornam confusas pra mim. Tenho dificuldade em ver a pessoa adulta que você se tornou e entender o quanto o tempo passou tão depressa. Do tamanho amor e carinho que tenho por você que chego a ter em você parte de mim. Claro, da parte boa, da qual eu posso me orgulhar. 

Que grande pretensão a minha de querer ver em você algo que possa fazer parte de mim. Mas ainda assim, tal idéia me faz sentir-me mais próximo de você, e tento reter de você todas as qualidades que lhe sobram.

Lembra dos dias em que lavamos os pés, nos abraçamos e derramamos nossos corações naquele abraço? Chorei copiosamente por horas depois daquele abraço e ate hoje meus olhos se enchem de lagrimas só ao lembrar daquele momento.

O seu sorriso e a sua alegria é contagiante, sua música é envolvente e cativante. Andar com você em alguns momentos é pra mim um privilegio como daqueles que andam com gigantes, mesmo sabendo que não podem ser comparados com aqueles de quem se admiram. 

E eu já lhe disse isso: você é mais hoje do que eu jamais sinto que serei! E você nem ao menos se esforça para ser assim tão especial. Isso apenas flui de você. Penso o que poderia acontecer no dia que você decididamente utilizar todo o seu potencial o quão alto você pode voar.

Com muita saudade recordo de quando eu sabia que chegaria tarde da noite, e você estaria aguardando para que assistissemos nosso programa favorito, e de como riamos das coisas que passavam, de quão infantil aquilo tudo se tornava ao ponto de sentirmos vergonha ainda que só estivéssemos nos 2 ali assistindo. E assim é até hoje. Há coisas em nós que somente nós entendemos e nao ligamos se o mundo ao nosso redor achar aquilo tudo ridículo.

Você me encanta e foi em sua companhia que eu vivi (e vivo) os melhores momentos da minha vida, que dou as minhas melhores risadas e de quem tenho minhas melhores lembranças. Espero algum dia saber que lhe faço tão bem quanto você me faz. Você conhece meus piores defeitos e ainda assim aceita a minha companhia.

Sei que você cresceu e nao é mais um menino... Mas pra mim, você sempre será grande e pequeno ao mesmo tempo. Você será sempre nosso pequeno Sunshine!

Com amor,

Gregório

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A vida vale mais



Naquela hora, pensamentos inusitados tomaram meu coração...

"Qual foi a ultima vez que eu toquei piano? Qual foi a ultima música que toquei em meu violão? Qual foi o último fato que me fez rir e qual foi o último filme que eu vi? O que eu disse para as pessoas que amava da ultima vez que nos vimos?"

Sempre achei que teria muito tempo pra todas essas e outras coisas. Não me importei em, de fato, viver intensamente cada uma delas...

Mal conseguia abrir meus olhos, nem abrir meus lábios para pronúnciar aquelas que poderiam ser minhas últimas palavras. A vida ali se esvaia diante de mim e eu não conseguia nem ao menos garantir que meus últimos fôlegos de vida fossem profundos como eu gostaria.

Pessoas passaram por perto mim e puderam ver meu estado... Pessoas de cânticos alegres com melodias inspiradoras, dedicadas com toda emoção ao Criador da vida. Passaram também estudiosos e conhecedores das Palavras da Vida. Fiz gestos para poder mostrar que em mim ainda havia vida e desejo de viver. Mas nenhuma mão foi estendida na minha direção... Não encontrei socorro e o auxílio imediato que precisava.

Então, aceitei: esse era o fim. Me cansei do cansaço e entreguei todas as minhas forças. Não era exatamente como eu imaginei que seria, nem o momento que eu imaginei que seria. Mas essas coisas não cabe a nós escolhermos.

As dores já não incomodavam mais. As feridas pareciam não mais sangrar. Meu corpo estava leve, como se eu estivesse flutuando, lentamente e calmamente. O que vinha após isso? Não importava... Eu conheceria logo, de qualquer maneira. Enfim, depois de ter aceito meu fim, descansei.

Quando abri os olhos, não estava no paraíso como eu acreditava que estaria. Havia alguém cuidando de mim. Me disse que um bom homem havia me deixado ali em seus cuidados e pagou por tudo. Disse que ele me colocou sobre o seu transporte, deitou azeite e vinho em minhas feridas.

Não pude vê-lo, nem soube seu nome. Não pude tentar pagar seu auxílio demonstrando a ele a minha gratidão. Mas tive uma certeza: A minha vida havia valido mais do que qualquer coisa para esse bom homem.

A vida, então, toma uma nova dimensão pra mim. Compreendo agora que, se é verdade que há uma mão estendida em minha direção, pedindo meu auxílio, é também verdade que ela também oferece a mim socorro, para me livrar do egoísmo e do egoísmo que aprisionou minha vida por todos esses anos. Descobri em fim que a vida não consiste apenas em mim, mas em todos aqueles que estão em minha volta.

Percebo que há uma enorme diferença entre gostar e amar, entre estar perto e ser próximo. Mais importante é praticar do que conhecer, agir do que falar.

Desejo viver todos os momentos da vida de forma intensa e atenciosa, em cada um dos seus detalhes, valorizando a vida sabendo que ela é o bem mais precioso que posso conquistar e usufruir.

Assim, dessa forma, buscarei a viver uma vida que vale a pena ser vivida!

Inspirado na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37)