quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tempestade

Uma forte chuva caia sobre ela. Fria e mais úmida do que ela jamais recorda ter sentido. Na sua mente, lembranças opacas, como oscilando entre onirismo e a realidade, não sabendo distinguir aonde uma termina e a outra começa. Embora seus pés estejam virados para frente, seu corpo se inclina para trás, atentando o seu caminho. Caminho que ela muito se animara a seguir, e por um tempo o seguiu. Mas tal qual o basset de Lispector, ela foi impelida a continuar a sua caminhada. No entanto, o cão ainda continuou a ser mais forte que ela.

No seu olhar, o reflexo embaçado e distorcido do que já foi percorrido. A imagem daqueles que ela ajudou a tirar do cativeiro, dos dias que foram de festividades, agora são sobrepostos com toda tempestade que se formou ao seu redor. Ela encontrou abrigo na caverna, ainda que por um pequeno instante. Lá dentro, descobriu que ajudou José, Vicente e Rafael e que ambos eram a mesma pessoa. Estendeu a mão para apanhar o cravo espinhoso que a pouco lhe ferira e agora estava caído entre as rochas.

Muitos são os passageiros na estação. Alguns que outrora vinham, agora se vão... Novas pessoas chegam. Rostos novos, novos amigos. João esteve ao seu lado todo esse tempo. Junto a ele, aprendeu a rir de si mesma, a ter um verdadeiro encontro com uma nova realidade, nova postura e até mesmo a tomar um café com ela mesma. Refém de si mesma e de suas ações, com o Rei de Lancelot que ela aprendeu justiça e a real liberdade. As conversas ao longo caminho que passaram a faz lembrar todos os dias agora de quem ela é.

Hoje ela decide terminar tudo que começou, com a dignidade e a coragem que um dia tudo começou. Ela decide andar mesmo esgotada, ainda que agora é solitário seu caminhar. Agora não importa mais a chuva fria, não importa mais. Agora ela segue o seu caminho, tendo na mente e no coração histórias e pessoas, no reflexo de seus olhos as abelhas, as raízes plantadas em belos jardins.

O que lhe guarda o futuro? Somente Deus o sabe. E um sorriso brota em seu rosto em virtude disso. Melhor assim!

Agora sim ela entende o ruivo de Clarice, e tal qual Benjamin Button entende: "A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente."

quinta-feira, 9 de abril de 2009

As Abelhas
Vinicius de Moraes / Bacalov
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A abelha-mestra
E as abelhinhas
Estão todas prontinhas
Para ir para a festa
Num zune-que-zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim
Da rosa pro cravo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
E de volta pra rosa
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Venham ver como dão mel
As abelhas do céu
Venham ver como dão mel
As abelhas do céu